Sífilis em idosos: as inúmeras dificuldades em lidar com o tema!

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O prolongamento da vida sexual, somado a práticas inseguras, tem refletido na possibilidade de ocorrência de sífilis em idosos.

O não reconhecimento da sexualidade na melhor idade, bem como, a sensação de não ser vulnerável ao vírus, faz das pessoas que estão na melhor idade, um grupo de risco a mercê da contaminação pela sífilis. A sífilis em idosos está encoberta de inúmeros tabus, dilemas e preconceitos e apenas o diálogo poderá reverter esse jogo!

É de conhecimento de todos, que a população mundial está ficando mais velha. Alguns países já estão se mobilizando para preconizar as condições básicas e fundamentais para proporcionar aos seus, o suporte adequado para viverem com mais qualidade de vida.

“O envelhecimento é um direito garantido pela legislação brasileira e a sua proteção, um direito social. Segundo a lei federal nº 10.741 de 1º de outubro de 2003, destinada a assegurar os direitos de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, é dever do Estado e da sociedade a preservação da saúde física e mental dos idosos, em condições de liberdade e dignidade.”

-Lucia Elaine Ranieri Cortez, Doenças sexualmente transmissíveis em idosos: uma revisão sistêmica, 02/11/2014.

Entretanto, dos direitos assegurados a população idosa, os atores da saúde, bem como, a sociedade em um todo, estão neglicenciando parcialmente o direito a saúde. Sim, é uma negligência, não levar em consideração que as pessoas na terceira idade ainda são ativas sexualmente e, portanto, precisam de apoio.

A falta de diálogo na sociedade sobre o sexo na terceira idade

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No Brasil, estimativas da Organização Mundial da Saúde apontam que há aproximadamente 937 mil novas infecções de sífilis. Existe a crença que com o envelhecimento as pessoas se tornam assexuadas, se dedicando apenas aos netos e aos dilemas da velhice, todavia, isso é uma falácia (hipocrisia), pois o desejo sexual não está em estado de inércia, bem como, com os inúmeros avanços da medicina, manter o desempenho sexual é algo possível, graças aos remédios e a reposição hormonal que colaboram com a melhoria da desenvoltura dos órgãos genitais.

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“Pesquisas indicam que geralmente a idade não elimina ou diminui o desejo por sexo. Pelo contrário, todos os autores dos trabalhos revisados concordam que a maior parte da população idosa permanece sexualmente ativa. No Brasil segundo dados do Programa Nacional de DST/AIDS, 67, 1% das pessoas de 50 a 59 anos e 39,2% das pessoas com mais de 60 anos são sexualmente ativos, estando vulneráveis a adquirir DST que, incluindo a infecção pelo HIV, são transmitidas, principalmente, através de contato sexual desprotegido.”

-Lucia Elaine Ranieri Cortez, Doenças sexualmente transmissíveis em idosos: uma revisão sistêmica, 02/11/2014.

Os fatores corporais que colaboram com o aumento da sífilis em idosos

Nos idosos, as mudanças fisiológicas do processo de envelhecimento, possuem ligação direta com a possibilidade de contágio, pois ocorre a diminuição da imunidade celular e humoral. A queda da ativação de células T e da produção de anticorpos, pode fazer com que tecidos sejam suscetíveis à sífilis.

As mulheres com mais de 60 anos apresentam níveis baixos de estrogênio devido a perimenopausa, o que irá causar uma menor lubrificação do órgão genital e, consequentemente o adelgaçamento da mucosa vaginal, predispondo a micro-abrações da parede durante as relações sexuais e facilitando com isso, a contágio e transmissão da bactéria.

Os fatores socioculturais que colaboram com o aumento da sífilis em idosos

Como fatores socioculturais para os casos de sífilis em idosos, alertamos que, muitos deles não se consideram em perigo e não possui consciência das complicações da doença, sendo alvos fáceis na contaminação.

Os profissionais de saúde também contribuem quando deixam de ofertar testes ou mesmo considerar um diagnóstico, justamente por não reconhecerem a sexualidade dos idosos; e o mais emblemático de todas as campanhas de prevenção e promoção à saúde relacionadas às DSTs em um modo geral omite ou não são direcionadas à população de idosos.

Existe um consenso global, incluindo até mesmo o Brasil, com a exclusão de idosos nas políticas públicas de prevenção à sífilis. De forma geral, acredita-se que o envelhecimento faz com que o indivíduo se torne uma pessoa sexualmente inativa, incapaz de produzir atração em outras pessoas.

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Muitos profissionais de saúde pensam dessa forma, valorizando apenas uma assistência de livre demanda de queixas estabelecidas, o que efetivamente prejudica o potencial de desenvolver ações preventivas em pacientes idosos.

A falta do uso de preservativos!

Os idosos tende a ter o comportamento de praticar as suas relações sexuais de maneira insegura. Deixando a porta aberta para a transmissão da sífilis.

“Indiscutivelmente, portanto, o principal fator de risco para DST em idosos é a prática sexual insegura. Com o aumento da idade, existe uma tendência em diminuir o uso de preservativos nas relações sexuais, demonstrando na Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas da População Brasileira 2008, onde 55% dos jovens entre 15 e 24 anos declaram ter usado preservativo na última relação sexual independentemente de parceiro fixo ou causal, enquanto apenas 16,64% dos indivíduos entre 50 e 64 anos confirmaram o uso do preservativo.”

– Lucia Elaine Ranieri Cortez, Doenças sexualmente transmissíveis em idosos: uma revisão sistêmica, 02/11/2014.

Muitas mulheres possuem receio de impor o uso de preservativo em suas relações sexuais com os seus parceiros, acreditando que com isso, eles irão se magoar ou até mesmo romper com elas. O que é um perigo, pois quando aceitam manter uma relação sem camisinha, estão entregando a saúde a própria sorte.

“O homem mais velho tem mais dificuldade de aceitar o uso do preservativo, porque ele associa isso à sua juventude, quando não se usava muito camisinha e as DSTs ainda não eram propagadas. 

– Dr. Carlos Augusto Araújo, Especialista em saúde sexual masculina.

O diagnóstico da sífilis em idosos

O diagnóstico de sífilis e das outras DSTs em idosos ocorre normalmente um atraso ou nem mesmo chega a ser realizado. Uma das causas seria a falta de conhecimento pelos próprios idosos a cerca da transmissão da sífilis, diminuindo a procura destes por testes, na medida em que acreditam não estar em risco de infecção.

Profissionais de saúde também contribuem para o subdiagnóstico, ou por despreparo em trabalhar com a sexualidade do idoso, ignorando as queixas sexuais da pessoa.

Existe, portanto, a necessidade de conscientização de profissionais de saúde, serviços de DST, serviços geriátricos e governos, acerca das mudanças de comportamento e perfil epidemiológico na população da terceira idade.

A sífilis em idosos precisa ser combatida! E apenas articulando ações de conscientização, discussões e melhoria na prática do diagnóstico a vitória será conquistada.

Interessante, não é?! Deixe o seu comentário dando o seu ponto de vista. Participe!

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