Compulsão por compras. Refúgio ou doença?

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A compulsão por compras, segundo as instituições responsáveis por sua análise, ele atinge majoritariamente mulheres entre 25 e 60 anos, todavia, a cada dia que passa percebemos que essa faixa etária tem rejuvenescido, e que já não faz mais distinção de sexo.

Tornamos uma sociedade que “o ter” se tornou mais importante do que “o ser”. Nós precisamos do último celular lançado, da calça da modelo e é claro do carro que faz o mesmo que os outros, todavia, com uma cor mais moderna. É o valor contemporâneo: consumo!

“Somos uma sociedade do consumo. Deixamos de ser cidadãos para nos transformarmos em consumidores. Interessante que mesmo as crianças deixaram de ser crianças também, […], o mercado, além de atender às demandas por cultura e lazer, também criou novas necessidades.”

-Luiz Carlos Ilafon Coronel, Secretário da Sociedade Brasileira de Psiquiatria.

Entretanto, algumas pessoas acabam desencadeando algo muito além da onda já nociva do consumo desenfreado, algumas pessoas desenvolvem uma compulsão patológica, que pode passar despercebida e estar atrelada a muito sofrimento e dor.

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Você já vivenciou esse episódio:

Você acabou de entrar em uma loja de sapatos, o seu coração está acelerado, os seus olhos tentam capturar todas as formas, cores e texturas que possam lhe agradar, as mãos estão inquietas em estado de vigília, pois precisam ser ágeis a ponto de capturar rapidamente aquilo que for desejado!

Em um estupor do desejo, você sai pela loja colocando todos os sapatos que lhe agrada na sacola, não importa se o intuito era apenas dar uma olhadinha nas novidades, você precisa daqueles seis pares de sapatos! A ocasião para usá-los irá aparecer!  Você segue até a boca do caixa com a sensação de que fez a coisa certa, foi necessário.

A atendente do caixa pergunta qual será a forma de pagamento, e você mostra o cartão de crédito, você parcela em 10X, pois assim, não pesará no orçamento. A máquina de cartão está processando e, de repente sobe a notinha amarelinha, junto com ela, sobe também em seu corpo, uma sensação de bem-estar, é como se você fosse contemplada por um mar de bálsamo, a sensação é muito boa!

Você coloca as sacolas no porta-malas, senta no banco, e de repente aquela sensação de bem-estar se torna cinza, sua boca fica amarga, o choro fica preso na garganta e a pergunta: porque eu comprei tudo isso sem necessidade? Não sai de sua cabeça!

Compulsão por compras

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Achar que sair por aí comprando tudo, é uma maneira de se livrar do sofrimento psíquico é um ato equivoco que só coloca ainda mais insumo na dor, o prazer momentâneo é esgotado em um piscar de olhos e, o que fica são as dívidas e ainda mais sofrimento.

Criamos falsos discursos para legitimar o comportamento de comprar desenfreadamente, todavia, não passam de justificativas fracas que apenas conseguem enganar os seus próprios criadores.

Um bom exemplo é o discurso que “estou comprando, pois sou merecedora”, ele é um gatilho corrosivo e perigoso, pois legitima e subsidia inúmeras compras com o “slogan de compra como remédio”, quando sabemos que comprar algo não livra ninguém das dores ou do sofrimento. Somo merecedores de afetos, compreensão e respeito, e isso, a compulsão por compras não é capaz de fornecer. 

Oniomania é uma doença!

Negar a compulsão de compras é muito comum entre as pessoas que sofrem com o transtorno, volta e meia eles dizem manterem o controle das compras, todavia, é recorrente estarem com o orçamento comprometido, bem como, com os cartões e contas bancárias estranguladas.

Oniomania é um dos nomes dado para o transtorno da compulsão por compras, bem como, TCC (transtorno compulsivo por compras). A universidade USP classifica a oniomania como:

“Preocupação excessiva, perda de controle sobre o ato de comprar; aumento progressivo do volume de compras; tentativas frustradas de reduzir ou controlar as compras; comprar para lidar com angústias ou outra emoção negativa; mentiras para encobrir o descontrole com compras; prejuízos nos âmbitos social, profissional e familiar; problemas financeiros causados por compras. Essas são as principais características de indivíduos que apresentam o transtorno de compra compulsiva – a chamada oniomania, palavra derivada dos termos gregos oné (a compra, a aquisição) e mania (a insânia, a fúria).”

-Izabel Leão, Jornalista da Universidade de São Paulo.  

A compulsão como sintoma de outras doenças psíquicas

Às vezes a compulsão por compras é um sinal de outra doença ainda mais grave, como a depressão, o transtorno bipolar, da ansiedade generalizada e etc.

É muito recorrente pessoas com transtorno afetivo bipolar quando estão no pendulo maníaco, consumirem em excessos acreditando que tudo aquilo é necessário.

“Portadores do Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) alternam basicamente dois estados: a tristeza profunda e a euforia. Neste segundo estágio, eles podem desenvolver o que, na linguagem médica, chama-se “mania”. Então, eles podem começar a beber, a usar drogas, a querer fazer sexo continuamente e a fazer compras, para saciar seus desejos. O que importa no bipolar é o excesso. Tudo são compulsões que eles não conseguem controlar, seja na depressão, seja na mania.”

-Luiz Carlos Ilafon Coronel, Secretário da Sociedade Brasileira de Psiquiatria.  

Apenas um especialista poderá através de muita investigação desvendar o que está por traz do comportamento de comprar desenfreadamente.

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Acreditar e continuar sendo enganado!

É muito recorrente ouvir de pessoas compulsivas, que elas estão “curadas” e, estão comprando com mais cautela, entretanto, é notado que a compulsão só mudou de alvo, exemplo: deixar de comprar roupas excessivamente, e passou a comprar alimentos desenfreadamente.

É um ciclo que a cada dia que passa pode ou não mudar de direção, entretanto, a vontade consciente ou inconsciente de comprar em excesso está presente. Às vezes na compra de objeto simples.

É um mecanismo parecido com o do usuário de drogas, surge de um desejo que causa muita fissura te deixa ansioso, a ponto de acreditar que é o melhor a se fazer, e se não, você criará o discurso ao seu favor, para ter um respaldo plausível legitimador.

 “O mecanismo do transtorno é semelhante ao da droga. O dependente químico toma a droga e se alivia momentaneamente, mas logo já volta a necessidade de consumo. A mesma coisa nos compulsivos. Elas acabam de comprar algo, mas já são levadas a comprar outra coisa novamente. Sorte se você tiver dinheiro para comprar. Quando não, a pessoa vai acabar pedindo emprestado, e isso vai gerando problemas graves, já que muitos vão ficando bastante endividados.”

-Luiz Carlos Ilafon Coronel, Secretário da Sociedade Brasileira de Psiquiatria.

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Você precisa mesmo de tudo isso?

Uma maneira de começar a identificar os gatilhos que fazem você cair na teia da compulsão é começar a se questionar se você realmente precisa daquilo. É um exercício exaustivo e continuo, é uma forma de conseguir despertar a ciência da necessidade de ajuda.

Os psiquiatras e os psicólogos podem colaborar para que a pessoa possa ter mais qualidade de vida, bem como, controle sobre o seu hábito de consumo, a compulsão por compras não tem cura, entretanto, é possível se libertar do ciclo vicioso do consumo ilusório.

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