Antes de começarmos a divagar sobre os tipos de samba de todo o nosso Brasil varonil, é importante acrescentar que essa matéria não pretende ser tendenciosa, portanto, o objetivo de maneira alguma será a contextualização histórica do samba, todavia, é evidente que em determinadas passagens do texto, ocorram algumas pontuações, mas são apenas para facilitar a compreensão e entendimento.
Vale pontuar também, e legitimar que o samba é herança da cultura negra brasileira e, por ser, um produto cultural afro-brasileiro, sofreu ao longo do século, inúmeras agressões e subjugações da classe dominante (como qualquer outro elemento da cultura negra), portanto, se faz necessário compreendermos o quanto da vivência negra perpassa pelo samba, bem como, saber um pouquinho sobre esse gênero musical, é obter uma parcela do que foi a vida do negro em Terras Brasilis a partir do século XX.
“O samba como gênero musical é entendido, como uma expressão musical urbana surgida no inicio do século XX na cidade do Rio de janeiro, nas casas das chamadas “tias baianas” – migrantes da Bahia –, quando o samba de roda, entrando em contato com outros gêneros musicais populares entre os cariocas, como a polca, o maxixe, o lundu e o xote, fez nascer um gênero de caráter totalmente singular.”
-Autor desconhecido.
Agora que as ressalvas já foram realizadas, vamos aos tipos de samba que surgiram em um século de grande efervescência cultural em nosso país.
Samba-maxixe
Esse subgênero é também conhecido como “samba amaxixado”, pela forte influência do maxixe. Surgiu a partir da década de 10 no do Rio de Janeiro (até então capital do país). Sua característica marcante é a presença do piano, flauta ou do clarinete, instrumentos musicais do gênero maxixe.
Vale acrescentar ainda, que embora outras canções foram registradas como samba, a composição da dupla Donga e Mauro de Almeida (há uma discussão se a autoria da música é deles mesmo), chamada: “Pelo telefone”, foi a primeira a ser gravada (em disco) e receber o registro de “samba”, recebendo, com isso, o título de música marco fundadora do gênero.
Ela foi composta no ano de 1916, no quintal da casa de uma tia baiana, muito importante para a resistência da cultura afro-brasileira. O nome dessa tia baiana é Hilária Batista de Almeida, conhecida pelos sambistas como tia Ciata. Os grandes nomes do samba-maxixe são: Sinhô, João da Baiana, Donga, Mauro de Almeida, Caninha, Pixinguinha e Heitor dos Prazeres.
Todavia, é importante, informar que, por mais que as composições do samba-maxixe tenham sido geradas no berço do gênero, ele pouco se assemelhava com o samba de roda que veio da Bahia (uma das raízes do samba urbano carioca), e provavelmente, não deveria ser o que era tocado nos quintas das tias baianas, acredita-se que o samba-raiado fosse o estilo que embalava esses “encontros secretos”.
Observa-se que as “aspas” foram adicionadas em encontros secretos, pois qualquer manifestação cultural negra era proibida e os seus praticantes (negros) eram considerados “vadios” sofrendo inúmeras represálias pela polícia e pela classe dominante. Observação: passaram-se apenas quase trinta anos “após a abolição” desde a composição de “Pelo telefone”. Para viajar até a década 10 do século XX, bem como, conhecer um pouco mais sobre o samba-maxixe escute a música abaixo:
“Pelo telefone”/Donga e Mauro de Almeida https://www.youtube.com/watch?v=woLpDB4jjDU
Samba-raiado
O samba-raiado veio junto com as tias baianas, sendo uma variante do samba de roda, sua característica principal era o acompanhamento do canto pelas palmas dos envolvidos, pandeiro e, por pratos de louças que eram raspados por facas de metal.
Provavelmente, algumas composições que foram embaladas pelo samba raiado, se tornaram sambas amaxixados e foram ouvidas em muitas casas do rio de janeiro e consequentemente do Brasil. E aqui estamos nos primeiros de uma variação imensa dos tipos de samba.
Samba-enredo
Se existe uma vertente do samba que ativa as nossas energias no carnaval, esse é o samba-enredo! Produto fabricado da turma do Estácio, onde foi criada a primeira escola de samba chamada “deixa falar”. No final da década de 20 a escola de samba desfilou pelas ruas do rio acompanhadas por um time de percussão que continham surdos, tamborins e cuícas. O ritmo é “marchado” para garantir que as pessoas consigam desfilar, portanto, ocorreu uma aceleração rítmica, todavia, sem perder a batucada. Dentre os tipos de samba, o samba-enredo é o que possui ritmo mais acelerado. Veja através do link abaixo o que o Ismael Silva fala sobre o samba e a sua reformulação: https://www.youtube.com/watch?v=8_KKiSPzz9Y / e escute um samba feito por ele: https://www.youtube.com/watch?v=H3NhOM1RBkc
Samba-canção
Conhecido também como sambas de meio de ano, ou seja, eram composições que eram realizados fora da época do carnaval. Possui um andamento bem lento, e aborda os temas relacionados ao amor, solidão e da famosa dor-de-cotovelo. Perpetuou do final da década de 20 até o final de década de 50. Inúmeros interpretes colaboram para a disseminação e o sucesso do subgênero.
Com melodias completamente melancólicas e letras que exaltavam “o amor que faz sofrer”, o samba-canção acabou ganhando também o título de fossa. Para sofrer com S maior escute a música de Lupicínio Rodrigues “Caixa de ódio“: https://www.youtube.com/watch?v=KBmMzr2M2hg
Samba-choro
Como o próprio nome sugere, esse subgênero mistura o batuque com o os instrumentais do choro da música clássica, a exemplo da flauta. Esquete um samba-choro: https://www.youtube.com/watch?v=5-7ZM-0DH70
Samba-exaltação
No final dos anos 30 do século XX, surgi o samba-exaltação, conhecido também, como o samba da legalidade, com o propósito de querer garantir que o samba se torne o estilo número 1 da música do Brasil para o mundo, bem como, “higienizar” as pessoas (malandros) que são elementos pertencentes ao gênero.
Através da censura e de políticas de aliciamento as letras deveriam exaltar o trabalho, as riquezas do país e jamais relatar a malandragem da época. Para ouvir o samba exaltação de maior repercussão escute “Aquarela do Brasil” /Interpretada por Francisco Alves: https://www.youtube.com/watch?v=kzk1Q6DHHaE o samba-enredo também deveria explanar em suas letras sobre a história do Brasil escute: https://www.youtube.com/watch?v=vf7ecBfEEPM
Samba de gafieira
Com a chegada da década de 40 e 50, uma avalanche de música estadunidense chega ao Rio de janeiro. E o samba não passou ileso por essa mistura cultural. Você percebera que alguns dos próximos subgêneros do samba irão sofrer a influência da música norte-americana. O samba de gafieira é um bom exemplo, tem como base as grandes orquestras da terra do tio San. Projetada para os grandes salões dessa época e tinha como intuito fazer as pessoas dançarem. Para saber como era a gafieira da década de 50 escute a música da turma da gafieira/”Vai com jeito”: https://www.youtube.com/watch?v=kaKiv6sy2Gk
Bossa nova
A bossa nova é um subgênero do samba lançado no final dos anos 50 pelos cantores da classe média da zona sul carioca. Produz uma radical transformação da batucada, acrescentando elementos do jazz e blues. Inúmeros são os interpretes e cantores. Escute a música símbolo da bossa nova: https://www.youtube.com/watch?v=UJkxFhFRFDA&list=PLs4czxF34XFBMoS4m4Wqu5pf7b5PuEFzX
Sambalanço
O sambalanço é um ritmo de intermédio entre o samba e a bossa nova. É um subgênero que conquistou as boates e bailes suburbanos, enquanto se escutavam bossa nova em bares em uma atmosfera intimista, o sambalanço era dedicado para as massas se balançarem. Destacam-se Jorge ben jor, Wilson Simonal, Bebeto dentre outros. Escute o sambalanço através do link: https://www.youtube.com/watch?v=IPENGb-FG5E
Samba de raiz
Se existiam artistas abertos ao aculturamento americano, em contra partida, existiam aqueles que eram a favor e defendiam o retorno do samba para as suas raízes tradicionais. Resgatando nomes que estavam novamente projetados para o morro, bem como, cantores de classe sociais mais altas indo aos morros para beber da fonte do samba. Escute um samba raiz na voz do Paulinho da Viola: https://www.youtube.com/watch?v=hhFDFqTSg8o
Samba de partido-alto
Apesar de o termo ter surgido lá no início do século XX nos quintais das tias baianas. Foi somente na década de 70 que o subgênero ganhou espaço na indústria fonográfica. Antes, ele era restrito apenas nas quadras das escolas de samba. Sua característica é a batida de pandeiro altamente percussiva, bem como, o uso das palmas das mãos. Escute o partido alto da década de 70: https://www.youtube.com/watch?v=DWjlz5iwPIY
Samba-joia
O samba-joia também é fruto dos anos 70, e recebeu esse nome de uma maneira pejorativa. Muitos o achavam de gosto duvidoso voltada para uma atmosfera mais romântica, todavia, foi essa características que o fez despontar nas paradas e conseguir o seu espaço nos canais. Entre os tipos de samba, o samba-joia foi duramente criticado e os seus adeptos precisaram se desviar dos críticos da época. Escute o samba-joia de Benito de Paula: https://www.youtube.com/watch?v=vr7HEagEvIQ
Pagode (raiz)
Na década de 80 nas famosas rodas de encontros dos sambistas que eram chamadas de “pagodes”, por terem, além de muita comida, música e descontração, viu surgir uma nova roupagem do gênero. O surdo que até então era elemento chave, deu espaço para outros instrumentos de percussão, como o tantã, surgiu também o banjo, isso graças ao grupo fundo de quintal reduto de grandes nomes dessa safra oitentista. Essa nova sonoridade caiu no gosto popular em um período em que o rock dominava as rádios do Brasil. Gerou grandes sambistas da atualidade. Escute o samba que era feito no cacique de ramos nos anos 80: https://www.youtube.com/watch?v=qeKmT-B6Bls
Pagode POP (romântico)
Na década de 90 foi uma verdadeira avalanche de grupos de “pagodes” que surgiram no cenário musical! A indústria fonográfica aproveitou a massificação do POP, pegou emprestado o nome “pagode” e produziu inúmeros grupos desse novo jeito de fazer “samba”. Algumas pessoas menos furiosas chamavam esse novo subgênero de pagode romântico. Se há algo que precisamos concordar é que nos anos 90 esses grupos tomaram conta de todos os canais de televisão, parada de sucessos e acabou sendo uma grande comoção nessa década, sendo um dos tipos de samba de maior vendagem (comercial). Sendo até hoje um dos ritmos musicais mais ouvidos no Brasil. Esquete o pagode romântico: https://www.youtube.com/watch?v=h5N99MS-b40&list=PLR_G0kvsqwjPXAeMz5MFFPO9H4wKP6zHq
Tipos de samba outras vertentes…
A década de noventa ainda nos revelou o pagode baiano, e se você pensa que nessa década você dançou muito axé, você está equivocada! Grupos como É o tchan, Gera samba, Terra samba dentre outros, são grupos de pagode baiano e não de axé music, que tem como seus representantes o Asa de águia, Daniela Mercury e etc. Você percebeu o quanto o gênero se modificou e gerou distintos tipos de samba?
Outros subgêneros do samba que surgiram foram o samba-rap, o sambar-reggae e o rock-samba. Como você pode perceber o gênero do povo nos possibilitou mais de um século de inúmeros tipos de samba, que de subgêneros, acabaram se tornando tão fortes que revolucionaram a indústria e o comportamento cultural de todo o Brasil.
Símbolo de resistência!
Símbolo de resistência e perseverança da cultura afro-brasileira o samba saiu dos guetos e adentrou as classes mais abastadas no país, entretanto, jamais deixou a sua essência, pois a sua raiz está presa no chão das comunidades. Finalizamos a matéria com a letra da música do ilustre Nelson Sargento, que resume toda a luta do samba nesse mais de um século de existência.
Agoniza mas não morre
(Nelson Sargento)
Samba,
Agoniza mas não morre,
Alguém sempre te socorre,
Antes do suspiro derradeiro.
Samba,
Negro, forte, destemido,
Foi duramente perseguido,
Na esquina, no botequim, no terreiro,
Samba,
Inocente, pé-no-chão,
A fidalguia do salão,
Te abraçou, te envolveu,
Mudaram toda a sua estrutura,
Te impuseram outra cultura,
E você nem percebeu,
Mudaram toda a sua estrutura,
Te impuseram outra cultura,
E você nem percebeu.